quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Entrevista com o Palentólogo Tito Aureliano

              
Tito Aureliano



         Por muitos anos, a paleontologia, dinossauros e paleontólogos eram coisas de filmes sci-fi e de países da América do Norte e Europa. Contudo, atualmente este quadro está sendo mudado, e o Brasil tem crescido em número de dinossauros e paleontólogos que tem se dedicado a desvendar os segredos da pré-história nacional.
       Entre estes profissionais está Tito Aureliano, paleontólogo de 26 anos, nascido em Recife, mas criado em Brasília. É casado com a professora Dra. Aline Ghilardi, também paleontóloga, e atua na pesquisa de Arcossauros, um grupo de animais que atualmente são representados por jacarés e aves, se estendendo a animais extintos como os pterossauros, dinossauros não-avianos e rincossauros (ELIAS, 2016). 
     Tito também atua no estudo da Geologia do Mesozoico, Biomecânica e modelos matemáticos de morfometria linear, paleoecologia de arcossauros do mesozoico com ênfase  em dinossauros (como mencionado acima) e do cenozoico (Mioceno da Bacia do Acre), além de atuar também como paleoartista. É também o segundo braço forte do portal "Colecionadores de Ossos" e também do canal do Youtube.
        O Planeta Antigo teve o prazer e a honra de entrevistar a Tito, que gentilmente nos cedeu parte de seu tempo, e conhecer um pouco de sua trajetória e de sua carreira na Paleontologia Brasileira! Confira!
    
      1. Nos conte um pouca a sua história. Quem é Tito Aureliano?

Um cara que realmente AMA a palentologia (principalmente de dinossauros), e que vive isso 24/7. E sou casado com outra pessoa exatamente assim. Logo, somos quase dois extra-terrestres que vivem a ciência o tempo todo. Para nós, pesquisar e lecionar é diversão. Obviamente que também nos divertimos com coisas normais como jogar videogame, caminhar ao ar livre na natureza, e ler um monte de livros legais.

      2. Quando foi que soube que queria ser paleontólogo?

Acho que desde que eu nasci e aprendi a falar. Desde as minhas memórias mais antigas andando em pé, eu me recordo com dinossauros e livros de dinossauros. Quando eu fiz 13 anos, fui em um congresso de Paleontologia e confirmei o meu desejo e carinho pela vida acadêmica.

      3. Mas afinal, o que é a paleontologia?

Para dizer de uma maneira mais simples, Paleontologia é o estudo da vida antiga, quase sempre direta ou indiretamente observando fósseis.  

      4. Como é ser paleontólogo no Brasil?

É tão complicado como ser qualquer cientista neste país, que investe tão pouco em ciência e tanto em festas. Em termos de trabalhar com bolsas de pesquisa de pós-graduação é até razoável comparado com países mais ricos em cultura científica. No mundo inteiro se investe muito pouco em paleontologia, principalmente paleontologia de tetrápodes (dinossauros inclusos). O Brasil está até bem em termos de oportunidades de pós-graduação na área. O que está difícil é que as instituições públicas estão muito mal equipadas em sua maioria, e com poucos profissionais efetivamente contratados como técnicos. Mas não há nada o que um pouco de criatividade e parcerias com outras instituições melhor equipadas para solucionar problemas.
Resumindo: Ou você passa num concurso para professor ou técnico de preparação de fósseis (o que é raríssimo de aparecer, este último), ou você dependerá das bolsas de pesquisa para fazer seus trabalhos. As bolsas já foram mais abundantes na época do PT no governo. Com a mudança para um regime cada vez mais direitista, a tendência é sempre diminuir o investimento em ciências como a palentologia, como nos EUA e Alemanha. Infelizmente, diferentemente destes países, o Brasil ainda não oferece a contratação de paleontólogos técnicos terceirizados. Ou seja, é um paradoxo que vai ficando cada vez pior com a diminuição das bolsas de estudo.
Ser paleontólogo no Brasil irá te exigir muita garra e criatividade para desviar das dificuldades, mas há muito ainda para ser descoberto.

      5. Quais os caminhos a serem percorridos para se tornar um paleontólogo no Brasil?

Não há nenhum título de graduação em paleo neste país e em quase nenhum país. Ao meu ver, ser paleontólogo é ser capaz de realizar toda a conduta profissional de um paleontólogo, realizando curadoria, preparação de fósseis com intuito científico e estar apto para escrever publicações científicas na área independentemente da titularidade. Por exemplo, eu conheço pessoas que já são doutoras em paleontologia que não preenchem estes requisitos, mas, por outro lado há pessoas que nem terminaram a graduação e já possuem uma conduta profissional. Jack Horner, paleontólogo famoso em Montana nunca terminou a graduação de Geologia, entretanto possuía uma carreira extensa na área da paleo. Aqui no Brasil, William Nava é curador do Museu de Marília, e um dos grandes paleontólogos da Bacia Bauru, com diversos trabalhos publicados, mas possui jornalismo de formação.
O caminho mais óbvio e tradicional de se seguir é graduando-se, principalmente em Biologia ou em Geologia. Embora eu tenha escolhido a segunda opção, recomendo a todos que querem trabalhar nesta área, que façam biologia por ser bem mais fácil a graduação e por ter profissionais muito mais agradáveis e sensíveis à causa da paleontologia.

   6. Sabemos que uma galera jovem tem sido cada vez mais atraída pela paleontologia no Brasil. Como você tem visto este crescente interesse pela paleontologia?

Espero que continue assim. Infelizmente, poucos jovens que realmente gostam da área seguem ela profissionalmente. Precisamos de pessoas que gostem de verdade do que estão fazendo. Isto é raro, pois a maioria dos paleontólogos não gostam tanto do que fazem e caíram de para-quedas neste campo.

      7. Qual a sua área de atuação? No que está trabalhando no momento?

Se pensar em termos de grupo, eu pesquiso arcossauros. Mas já trabalhei e ajudei colegas a coletarem todo tipo de fósseis em vários lugares.
Junto com a minha esposa, a Prof. Dra. Aline Ghilardi, gostamos sempre de desenvolver trabalhos com o máximo de ferramentas disponíveis, e não olhar o osso fóssil como uma peça, mas sim o que um dia foi um animal vivo. Qual era o seu contexto ecológico? Quão maduro era? Quão grande poderia ainda ser? O quanto comia? Porque morreu? Além do padrão descritivo, constantemente estamos nos apoiando em ferramentas de morfometria e de histologia para tentar responder mais à fundo estas questões. Trabalhamos sempre juntos e com muitas coisas ao mesmo tempo. Estamos com um material novo de dinossauro do Araripe, estamos adaptando uma técnica de geofísica para encontrar rochas com fósseis no local, estudando o quanto que fósseis podem aguentar de deformação nas rochas, além de buscarmos mais materiais nos cantos mais esquecidos do Brasil. Em termos de pesquisa, estas são algumas das coisas que estamos fazendo no momento.

      8. Qual foi a maior descoberta ou maior trabalho que você já realizou?

Sei lá. Nunca parei pra pensar. Acho que eu nunca vou pensar qual foi a maior descoberta. Isso eu deixo pros outros falarem. Eu penso sempre em me superar na vez seguinte!

      9. E quanto ao “Realidade Oculta”? Fale-nos um pouco sobre ele!

Quando eu era criança e adolescente, os livros ‘Jurassic Park’ e ‘Mundo Perdido’ de Michael Crichton me deixaram completamente imerso num mundo extraordinário. O mesmo vale para filmes antigos de dinossauros e aventura! Meu desejo era inspirar a nova geração com uma cautelosa homenagem, “Realidade Oculta.”

      10. Quais as novidades sobre o livro?

A Editora Novo Século está vendendo em larga escala a nova edição revisada de R.O., e em breve estará em todas as maiores livrarias. Espero que, assim, chegue mais ao alcance do público geral.

      11. Quais seus projetos futuros em relação a literatura?

Além dos artigos científicos, tenho rascunho para mais 6 livros. Dentre eles, duas continuações para R.O. Mas não só isso. Com relação a outras mídias, queremos lançar uma série nova no Canal dos Colecionadores de Ossos. Tenho aprendido, também, programação. Aline e eu estamos prototipando nossos primeiros jogos digitais. Queremos enveredar por este caminho também.


      12. O que você gostaria de dizer para toda a galera que te curte e que se inspira em você e tem o sonho de ser paleontólogo?


Muita garra e força! Seja determinado à qualquer custa! Sempre honre os amigos e colegas que te ajudaram na carreira e nunca os deixe para trás! Tenham coragem de pensar fora da caixa e não se intimidem com os problemas e adversidades. Vá onde ninguém antes foi e descubra o novo. Quando alguém pisar em você e quiser te atrapalhar, lembre-se que terá Aline e eu se precisar bater um papo.

Com muita satisfação encerramos mais uma de nossas entrevistas e agradecemos ao Tito por sua atenção e cuidado em nos propiciar uma pouco do seu conhecimento e de seu incentivo para todos aqueles que seguem e querem seguir esta carreira incrível!
Se você deseja conhecer mais sobre o(s) trabalho(s) do Tito, confira os links abaixo!

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